Empresas brasileiras ainda não estão preparadas para inclusão de profissionais com deficiência, aponta pesquisa

Uma pesquisa recente intitulada "Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência", conduzida pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a Talento Incluir, o Instituto Locomotiva e a iO Diversidade, revelou que 80% dos profissionais com deficiência ou neurodivergência consideram que a maioria das empresas não está adequadamente preparada para integrá-los em seus quadros funcionais. 

O estudo, realizado entre 20 de outubro e 3 de novembro de 2024, contou com a participação de 1.230 indivíduos com 18 anos ou mais que se identificam como neurodivergentes ou possuem alguma deficiência.

O que diz a Lei sobre a contratação de PCDs?

Conforme a legislação, as proporções para empregar pessoas com deficiência variam de acordo com a quantidade de funcionários. De 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%; de 201 a 500, de 3%; de 501 a 1.000, de 4%. As empresas com mais de 1.001 empregados devem reservar 5% das vagas para esse grupo.As empresas que não cumprem a cota de contratação de pessoas com deficiência (PCD) podem ser multadas, autuadas e processadas judicialmente. 

  • O valor da multa é calculado multiplicando o número de PCD não contratados pelo valor da multa estipulado por lei; 
  • O valor da multa varia de acordo com a gravidade do descumprimento; 
  • A fiscalização é realizada pelos auditores fiscais de trabalho;
  • Responsabilidade criminal dos sócios por falsidade ideológica

Desafios de acessibilidade no ambiente de trabalho

Um terço dos participantes (33%) relatou que seus locais de trabalho não são devidamente adaptados às suas necessidades. Além disso, quase todos afirmaram que se identificam como pessoas com deficiência ou neurodivergência durante processos seletivos. 

Isso sugere que uma parcela ainda não se sente confortável para se declarar como tal, possivelmente por receio de perder oportunidades ou por desconhecimento de diagnósticos que se enquadram nessa classificação.

Preferência pelo trabalho remoto ou híbrido

A pesquisa destacou que 71% dos entrevistados preferem modelos de trabalho remoto ou híbrido, uma porcentagem superior aos 58% que atualmente operam nessas modalidades. 

A possibilidade de trabalhar de casa é essencial para muitos, pois já dispõem de equipamentos e softwares que facilitam o desempenho de suas funções, recursos que frequentemente não estão disponíveis nos ambientes corporativos.

O estudo revelou que 84% dos profissionais com deficiência ou neurodivergência já tiveram sua saúde mental ou emocional afetada por ações capacitistas no ambiente corporativo. 

Além disso, 90% dos entrevistados relataram ter enfrentado situações de capacitismo no trabalho, mas apenas 35% comunicaram o ocorrido ao empregador, e, desse grupo, somente 18% sentiram-se totalmente acolhidos pelas chefias.

Importância de programas de inclusão e acessibilidade

Para 25% dos respondentes, a existência de programas de inclusão e acessibilidade nas empresas é um fator determinante na tomada de decisões profissionais. 

Ao buscar emprego, 47% optariam por vagas exclusivas para pessoas com deficiência ou neurodivergência, enquanto 49% se candidatariam a qualquer vaga disponível.

Desafios na implementação de políticas de inclusão

A diretora da 4CO, empresa especializada em ações de diversidade e inclusão, Lia Calder, observa que, apesar de o Brasil contar com uma política desde 1991 que visa implementar medidas inclusivas em empresas com mais de 100 funcionários, os avanços têm sido limitados. 

Ela destaca que muitas organizações preferem arriscar denúncias do Ministério Público do Trabalho (MPT) e possíveis processos judiciais a adotarem as adaptações necessárias para funcionários com deficiência ou neurodivergência.

Calder também aponta que, frequentemente, pessoas com deficiência são mantidas em cargos de base por longos períodos, sem oportunidades de desenvolvimento profissional. Ela enfatiza que essa situação evidencia a falta de comprometimento das organizações com o crescimento desses profissionais.

Dados do IBGE sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 26,6% das pessoas com deficiência estão empregadas, em contraste com 60,7% das pessoas sem deficiência. 

Além disso, cerca de 55% das pessoas com deficiência que trabalham estão em situação de informalidade, e seu rendimento médio é de R$ 1.860, enquanto o de pessoas sem deficiência é de R$ 2.690, uma diferença de 30%.

Os dados evidenciam a necessidade urgente de políticas efetivas de inclusão e acessibilidade nas empresas brasileiras. A implementação de ambientes de trabalho adaptados e a promoção de uma cultura organizacional inclusiva são fundamentais para garantir a plena participação de pessoas com deficiência ou neurodivergência no mercado de trabalho.

fonte; contabeis.com.br

Categoria:Notícias

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