Selic em alta: como micro e pequenas empresas podem sobreviver ao juro elevado

A Taxa Selic é considerada a principal referência dos juros básicos na economia brasileira. Definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, ela influencia diversos aspectos do mercado, incluindo os custos de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Atualmente, a Selic está fixada em 12,25% ao ano, o que repercute diretamente nos índices de juros praticados por bancos e demais instituições financeiras.

Para muitas empresas, especialmente as de pequeno e micro porte, a Selic afeta diretamente o custo do crédito para capital de giro. 

Como essas companhias dependem de recursos para manter operações diárias, a elevação dos juros torna financiamentos mais caros e pode dificultar a obtenção de empréstimos. 

Bancos tendem a exigir garantias mais sólidas e adotar políticas de análise de risco mais criteriosas, restringindo o acesso ao crédito para quem tem menos capital.

Origem da Selic e papel do Banco Central

O termo “Selic” se relaciona ao Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, plataforma administrada pelo Banco Central em que se realizam transações diárias com títulos públicos federais. A média das taxas dessas negociações forma a chamada Taxa Selic efetiva, enquanto a Taxa Selic meta é estabelecida pelo Copom. 

Em geral, o Copom se reúne a cada 45 dias para avaliar a conjuntura econômica, as projeções de inflação e de crescimento, além das condições de liquidez no mercado. Ao final desses encontros, o colegiado anuncia a Selic meta, e o Banco Central atua para mantê-la próxima desse patamar por meio de operações com títulos públicos.

Selic como instrumento de política monetária

O objetivo central da política monetária é manter a inflação sob controle. Ajustar a Selic para cima ou para baixo influencia o volume de crédito disponível, o nível de consumo, as taxas de investimento e, em última instância, o comportamento dos preços.

  • Quando a Selic sobe, fica mais caro tomar dinheiro emprestado, o que tende a reduzir o consumo e o investimento, ajudando a conter a inflação.
  • Quando a taxa baixa, os empréstimos ficam mais baratos, estimulando o consumo e o crescimento econômico, mas aumentando o risco de pressão inflacionária.

Repercussões para micro e pequenas empresas

Endividamento e fluxo de caixa

Em um cenário de juros altos, dívidas já contratadas — principalmente as indexadas a taxas variáveis — ficam mais caras. O resultado é a diminuição do fluxo de caixa, pois parte dos recursos precisa ser destinada ao pagamento de parcelas mais elevadas. 

Nesse contexto, há maior risco de inadimplência, o que pode gerar exclusão de crédito em etapas futuras e prejudicar a reputação da empresa no mercado.

Diminuição da demanda e queda nas vendas

A Selic em alta não afeta apenas o acesso ao crédito; ela também pode reduzir a demanda por produtos e serviços. Com os consumidores mais cautelosos para gastar, setores diversos enfrentam queda nas vendas, que impacta especialmente negócios de menor porte, que possuem menos estrutura financeira para lidar com oscilações na procura.

Investimentos comprometidos

O processo de modernização, aquisição de equipamentos e expansão geralmente requer financiamentos. Quando a Selic se eleva, a maior parte das linhas de crédito fica mais custosa. 

Embora algumas modalidades de longo prazo possam estar atreladas a outros indexadores, a taxa básica de juros ainda exerce influência significativa sobre as condições gerais de financiamento. Isso pode levar empresas a postergar ou cancelar projetos de crescimento, afetando sua capacidade de competir em mercados cada vez mais competitivos.

Consequências nos custos operacionais

A elevação dos juros também afeta fornecedores de matérias-primas e insumos, que repassam parte desses custos aos clientes. Assim, micro e pequenas empresas se veem diante de aumento nas despesas e necessidade de repensar preços e margens de lucro. 

A inadimplência em toda a cadeia produtiva pode subir, gerando desafios adicionais no relacionamento comercial e reduzindo a saúde financeira do setor.

Para enfrentar esse cenário, recomenda-se adotar estratégias como negociar prazos de pagamento, otimizar processos e reduzir desperdícios. Essas ações ajudam a amenizar o impacto da Selic alta e preservar a solidez do empreendimento.

Medidas governamentais e apoio institucional

Algumas iniciativas podem atenuar a pressão dos juros sobre as micro e pequenas empresas:

  1. Linhas de crédito subsidiadas: programas de incentivo operados pelo BNDES e pela FINEP, além de outras instituições de fomento, costumam oferecer taxas mais competitivas, sobretudo para projetos de inovação, eficiência energética e sustentabilidade;
  2. Mecanismos de garantia: fundos garantidores e sociedades garantidoras de crédito podem viabilizar juros menores, pois diminuem o risco dos bancos ao conceder recursos;
  3. Renegociação de dívidas: empresas com passivos elevados podem buscar condições mais favoráveis para quitar ou reestruturar compromissos, diminuindo o peso das parcelas no fluxo de caixa.

 

Impacto no consumo e nos investimentos

  • Crédito ao consumidor: as taxas de empréstimos e financiamentos para aquisição de bens e serviços refletem os movimentos da Selic. Quando há alta, o consumo tende a cair, pois os juros encarecem as compras. No sentido oposto, a baixa da Selic costuma ampliar o poder de compra da população;
  • Aplicações financeiras: investidores de renda fixa costumam se beneficiar de um cenário de Selic alta, uma vez que títulos do governo, CDBs, letras de crédito e debêntures passam a oferecer remunerações mais atrativas. Quando a Selic diminui, esses retornos recuam, levando investidores a buscar alternativas no mercado de ações ou em outros ativos.

 

Definição e acompanhamento da Selic pelo Copom

O Copom reúne diretores e o presidente do Banco Central para decidir a Selic meta, com base em indicadores econômicos internos e globais. Durante as reuniões, ocorrem análises detalhadas sobre inflação, crescimento, balanço de riscos e liquidez financeira. 

A meta estabelecida é divulgada ao mercado imediatamente, por meio de comunicados publicados na internet.

Para manter a Taxa Selic efetiva próxima ao índice definido, o Banco Central recorre à compra e venda de títulos públicos, controlando a quantidade de dinheiro em circulação e, assim, influenciando os juros praticados entre as instituições financeiras.

Dicas para micro e pequenas empresas lidarem com a alta da Taxa Selic

  1. Evitar endividamento desnecessário: avaliar soluções internas e ajustes operacionais antes de buscar crédito pode prevenir problemas de fluxo de caixa em um momento de juros elevados;
  2. Buscar linhas de crédito subsidiadas: identificar programas do BNDES, FINEP ou agências de fomento estaduais ajuda a obter recursos com custos menores e prazos mais longos;
  3. Priorizar financiamentos de longo prazo: em geral, empréstimos de capital de giro são mais caros e exigem pagamento rápido. Já financiamentos de longo prazo costumam oferecer condições mais vantajosas;
  4. Comparar propostas: analisar diferentes bancos comerciais, cooperativas de crédito e agências de fomento permite encontrar taxas e prazos mais adequados à realidade da empresa;
  5. Explorar fontes alternativas de recursos: negociar pagamentos com fornecedores e antecipar recebíveis podem reduzir a necessidade de recorrer a empréstimos, preservando a margem de lucro;
  6. Otimizar a gestão financeira: fortalecer o controle do fluxo de caixa, eliminar custos desnecessários e investir em eficiência operacional são métodos fundamentais para minimizar o impacto dos juros altos;
  7. Promover parcerias e capacitação: entidades como Núcleos de Acesso ao Crédito (NAC) nas Federações das Indústrias oferecem orientações para melhorar o planejamento e potencializar negociações com instituições financeiras.

A Taxa Selic exerce um impacto significativo na estrutura de custos e na capacidade de investimento das micro e pequenas empresas. Em períodos de elevação dos juros, empreendedores precisam adotar estratégias de gestão mais rigorosas, otimizar processos e buscar crédito em condições menos onerosas, seja por meio de linhas subsidiadas ou de mecanismos de garantia que reduzam riscos. 

Essas medidas podem ajudar a manter a competitividade mesmo diante do custo financeiro elevado, preservando o crescimento e o equilíbrio do negócio em um ambiente econômico desafiador.

Fonte: contabeis.com.br

Categoria:Notícias

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